quarta-feira, 4 de maio de 2011

Polígrafo de Sociologia

Sociologia
Maria Helena Viana Bezerra
Cuiabá, 2008
Ministério da Educação
Escola Técnica Aberta do Brasil
Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná
UNIDADE I
A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 13
Sociologia é a ciência que estuda o homem como elemento pertencente a um
grupo social. Nesta unidade, remetemo-nos à história, a fim de entendermos em
que contexto surgiu a Sociologia, o que significa investigar o que aconteceu na
história das sociedades que trouxe à tona a necessidade de uma ciência que
busca compreender as transformações sociais: a Sociologia. Vejamos como isso
acontece!
AS EXPLICAÇÕES
ACERCA DA SOCIEDADE
QUE ANTECEDERAM
A SOCIOLOGIA
É importante enfatizar que o senso comum é o primeiro estágio de conhecimento
e que precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente, ou
seja, o senso comum precisa ser transformado em bom senso ou, ainda, em senso
crítico, que nada mais é do que a elaboração coerente do saber. Segundo o
filósofo Gramsci ( apud ARANHA; MARTINS, 1993), é “o núcleo sadio do senso
comum”.
Portanto, qualquer pessoa, se for estimulada em sua capacidade de
compreender e criticar, se torna capaz de juízos sábios, isto é, orientados para
sua humanização. Eis aí uma das funções da Sociologia.
O senso comum é o pensamento coletivo, a forma de pensar de um povo,
baseada na transmissão de informações que, muitas vezes, não é baseada em
conceito algum, apenas na crença de informação que se julga verdadeira, ou
seja, aquilo que todo mundo percebe facilmente ou que é adquirido por meio
de conhecimentos de nossos antepassados. Exemplo: não se deve comer
manga e, depois, tomar leite, pois pode ser extremamente perigoso.
Neste curso, o estudo da
Sociologia tem como objetivo
primeiro ajudá-lo a aumentar a
sua autonomia de reflexão e de
ação diante dos fatos que o
cercam, o que significa tirá-lo do
senso comum ou, ainda, do bom
senso e levá-lo ao chamado
senso crítico.
Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado
dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência
vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de idéias
que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores
que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir. O senso comum não é refletido
e se encontra misturado a crenças e preconceitos.
Ruína de Vila Bela
da Santíssima
Trindade-MT, 2006.
Foto: Laércio Miranda.
14 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
O senso crítico é a busca individualizada de uma idéia ou pensamento que leva
em consideração o conhecimento ou o embasamento sólido e consistente de um
conceito. Exemplo: você assiste a um filme e não concorda com o seu desfecho.
Neste momento, você estará utilizando o senso crítico ao fazer a análise dele.
Bom Senso: forma de agir que a pessoa assume, só se não tiver capacidade de
auto-critério e auto-avaliação. Veja o exemplo abaixo:
ECT diz contar com o bom senso para o fim da greve
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) informou hoje, em nota
oficial, que "vem adotando todas as medidas necessárias para a manutenção
dos serviços e conta com o bom senso de seus empregados para que
retornem ao serviço". Em sua defesa, a empresa argumentou ter concedido
abono salarial referente a 30% do salário, durante seis meses (dezembro de
2007 a maio de 2008), para 43.988 funcionários. A empresa informou também
que, desde junho de 2008, foi instituído um adicional permanente no valor de
R$ 260, beneficiando 57.951 empregados internos e externos. De acordo com a
ECT, o adicional teve custo total de R$ 390 milhões na folha de pagamento da
empresa.
Em assembléias realizadas hoje em todo o País, os grevistas decidiram manter a
paralisação iniciada na terça-feira passada, rejeitando proposta do presidente
do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro River Nogueira de Brito, feita pela
manhã, na audiência de conciliação, de suspensão da greve até que o
tribunal fizesse uma avaliação mais aprofundada das reivindicações dos
grevistas com a diretoria da empresa.
Os funcionários dos Correios reivindicam, entre outras mudanças, o fim do
Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS), implementado em 1º de julho. O
Plano permite que funcionários sejam demitidos sob a alegação de baixa
produtividade. A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de
Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), no entanto, afirma que a mudança
pode resultar em injustiças, uma vez que o desempenho dos funcionários será
avaliado por seus chefes diretos (A TARDE, 2008).
Você seria capaz identificar ocasiões nas quais teve
que usar o senso comum, crítico ou o bom senso? Reflita
então sobre tal situação, atentando para as definições
apresentadas.
Os obstáculos à passagem do senso comum ao senso crítico resultam da exclusão
do indivíduo das decisões importantes na comunidade em que vive, justificando,
portanto a importância do estudo desta disciplina no âmbito pessoal e profissional
de qualquer área.
Antes de iniciarmos o estudo da Sociologia, propriamente dita, faremos um passeio
rápido pelos períodos históricos, a fim de compreender como a sociedade,
explicava e entendia o mundo, sobretudo o social, antes da chegada da
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 15
Sociologia como ciência. Esta compreensão nos fará perceber que nem sempre
as pessoas puderam contar com a ciência para entender o mundo, e que em
determinados períodos no passado, a humanidade se deixou levar por
explicações ora falsas, ora míticas, sobre a realidade, além de nos ajudar também
a entender as bases da formação do pensamento sociológico.
Vejamos como isto se deu nos períodos históricos a seguir:
Na Antiguidade
Na Grécia Antiga, já havia o desejo de se entender a
sociedade. Enquanto os povos antigos só se interessavam pelo
mundo em que viviam, para entender o restante do universo,
os gregos criavam as diversas disciplinas, dentre elas à filosofia,
aquela conhecida como pré-socrática, e que representou um
esforço de racionalização e de desvinculamento do
pensamento mítico.
No entanto, se o pensamento racional se desliga do mito,
filosofia e ciência permanecem ainda vinculadas. Aliás, não
haverá separação entre elas antes do século XVII.
Sócrates, filósofo grego
(470-399 a. C.).
Na Idade Média
Embora este tenha sido o período em que os valores das sociedades antigas
se mesclaram aos dos povos germânicos, dando origem às bases da sociedade
contemporânea. Segundo os renascentistas, foi um período obscuro na história da
humanidade, durante o qual imperou o misticismo e a ignorância, a chamada
“Idade das Trevas”; à época, ocorreu na Europa um retrocesso artístico, intelectual,
filosófico e institucional, com a destruição dos valores da cultura greco-romana,
quando a Igreja Católica predominava nas explicações sobre a sociedade.
Na Idade Moderna
Este é o período conhecido como “Renascimento”, quando o homem volta aos
textos antigos e redescobre o prazer de investigar o mundo, descobrir as leis
de sua organização, independente de suas implicações religiosas e metafísicas.
Neste período, surgem pensadores como Nicolau Maquiavel, autor da obra O
Príncipe, dentre outros, além da doutrina do antropocentrismo que começa
a ganhar força; enquanto o pensamento medieval é predominantemente
teocêntrico (Deus como centro), o homem moderno coloca a si próprio no
centro dos interesses e decisões.
Fim da Idade Moderna para a Contemporânea
Já a partir do século XVIII, surgem na França os pensadores conhecidos como
Iluministas, que provocaram uma verdadeira revolução intelectual na história do
pensamento moderno; suas idéias caracterizavam-se pela valorização da razão,
eram partidários da idéia de progresso, rejeitavam as tradições e procuravam
SABER M
16 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
uma explicação racional para tudo.
Suas opiniões abriram caminho para diversos movimentos sociais, inclusive
a Revolução Francesa, que, pela sua amplitude, marcou o início do mundo
contemporâneo.
Para saber mais sobre a Idade das Trevas, assista ao filme O nome da Rosa, que
mostra o retrocesso intelectual e filosófico da sociedade, bem como a destruição
dos seus valores. Observe de que modo a ideologia da Igreja Católica
predominava nas explicações sobre a sociedade e a vida.
O NOME DA ROSA
Sinopse: Estranhas mortes começam a ocorrer num
mosteiro beneditino localizado na Itália, durante a
baixa Idade Média; as vítimas aparecem sempre
com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda
uma imensa biblioteca, na qual poucos monges têm
acesso às publicações. A chegada de um monge franciscano (Sean Conery),
incumbido de investigar os casos, mostra o verdadeiro motivo dos crimes,
resultando na instalação do tribunal da Santa Inquisição.
Agora que já fizemos este passeio pela história, poderemos entender em que
contexto a Sociologia surgiu.
O CONTEXTO HISTÓRICO DO
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
As mudanças sociais ocorridas com a
consolidação do capitalismo, culminadas pela
Revolução Industrial na Inglaterra (séc. XVIII),
levaram os pensadores da sociedade
da época a indagações e elaborações de
teorias explicativas da dinâmica social e dos
diferentes posicionamentos políticos.
É nesse contexto de mudanças de organização
da sociedade caracterizada por novas relações
de trabalho que surge, portanto, a Sociologia.
Sociologia é a ciência social que estuda as relações sociais e as formas de
associação dos seres humanos, considerando as interações que ocorrem na
vida em sociedade. A Sociologia estuda os grupos sociais, a divisão da
sociedade em camadas ou classes sociais, a mobilidade social, os processos
de mudança, cooperação, competição e conflito que ocorrem nas
sociedades etc.; é a ciência social que estuda os fatos sociais.
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 17
A Sociologia é tida, por alguns, como a "ciência da crise", exatamente por surgir,
ou nos utilizarmos dela, geralmente, nos momentos das maiores crises nas
sociedades.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a consolidação do capitalismo e
entender a importância da Revolução Industrial para o surgimento da Sociologia,
leia atentamente as informações abaixo:
No decorrer da segunda metade do século XVIII, a Inglaterra passou por um
conjunto de mudanças que transformou completamente a estrutura da
sociedade.
No início, a Revolução Industrial envolveu, principalmente, a produção de bens
manufaturados. Algumas de suas características foram: o surgimento da fábrica,
que era conhecida por unidade industrial e que substituiu o antigo sistema de
produção doméstico, concentrando em um mesmo local de trabalho dezenas,
centenas e até milhares de trabalhadores; a substituição das ferramentas pelas
máquinas e da energia humana pela energia motriz (o carvão); a utilização, em
larga escala, do trabalho assalariado; e o surgimento de duas classes sociais com
interesses opostos e claramente definidos, a burguesia industrial e o proletariado.
Impulsionada pela acumulação primitiva de capital, a Revolução Industrial
redimensionou e consolidou o sistema capitalista, colocando fim à
preponderância do capital mercantil sobre o industrial, o que provocou
mudanças de comportamento, de consumo e de relações de trabalho, gerando,
por fim, o que se pode chamar de caos social, incompreendido naquele
momento pela sociedade européia.
Em meio a todas essas transformações que ocorriam na Europa Ocidental, houve
a consolidação do sistema capitalista e a valorização da ciência, contrapondo as
explicações míticas sobre o mundo. A partir da abertura de mercados mundiais, o
surgimento de novas classes na sociedade e a crise da classe proletária versus o
enriquecimento da classe burguesa, a Sociologia começou a ser pensada como
uma ciência que surgiu para dar respostas mais elaboradas sobre o caos que
estava se formando.
A Sociologia e suas teorias que vamos estudar se constituem em ferramentas de
reflexão sobre a sociedade industrial e científica que surgia.
Augusto Comte afirmava que a sociedade funcionava como
um organismo, no qual cada parte tem uma função
específica, contribuindo para o funcionamento do todo.
Segundo ele, ao longo da história, a sociedade teria passado
por três grandes fases: a teológica, a metafísica e a positiva
ou científica. Na primeira, as pessoas recorreriam à vontade
Foi nesse contexto que o filósofo e matemático francês Augusto
Comte, entre 1830 e 1842, publicou sua primeira grande obra, na
qual expõe os princípios fundamentais de sua filosofia e de sua
teoria da História: Curso de Filosofia Positiva, composta de seis
volumes. A partir de então, sua doutrina passou a ser conhecida
como Positivismo.
18 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
dos deuses para explicar os fenômenos naturais; na segunda, utilizavam conceitos
mais abstratos, como "natureza"; na terceira, que corresponderia à sociedade
industrial, o conhecimento se baseava na descoberta das leis objetivas que
determinam os fenômenos.
Foi ele o criador da palavra Sociologia, para designar a ciência que deveria
estudar a sociedade. Por essa razão, é considerado o “pai” da Sociologia.
Sua doutrina, o Positivismo, exerceu forte influência sobre a oficialidade do
Exército brasileiro nas últimas décadas do século XIX. Por isso, um dos lemas
positivistas está estampado na nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.
Portanto, o Positivismo foi uma linha de pensamento que glorificou a sociedade
européia do século XIX, em franca expansão. Por ela, buscava-se a resolução dos
conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre os
indivíduos e ao bem-estar do todo social.
Positivismo significa a superioridade da ciência e no poder de explicação dos
fenômenos de maneira desprendida da religiosidade, como era comum se
pensar naquela época. E tem mais: como positivista, Comte acreditava que a
ciência deveria ser utilizada para ordenar o social, pois acreditava que a
sociedade estava em desordem.
A história do Positivismo no Brasil tem importância especial para a evolução das
idéias no país. Foi sob o patrocínio do Positivismo que, em grande parte, se fez a
preparação teórica da implantação da república.
O Pensamento Positivista
O Positivismo no Brasil
Você percebeu como é importante olhar o
passado para se compreender o presente?
O aparecimento da Sociologia significou que as questões referentes às relações
entre os homens deixaram de ser apenas matéria religiosa e do senso comum,
mas passaram a interessar também aos cientistas. A constituição desse campo
do conhecimento significou, antes de qualquer coisa, que as relações entre os
homens mereciam ser conhecidas e formuladas por uma nova forma de
linguagem e discurso, chamada de científica e que, na sociedade moderna,
adquire o estatuto de “verdade”.
Foi nesse momento que o homem começou a elaborar métodos e instrumentos
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 19
de análise capazes de explicar e interpretar sua experiência social de maneira
científica. Foi como criar, assim como fazem as demais ciências, métodos de
averiguação e medição, e fazer formulações sobre a sociedade, que
poderão ser comprovadas empiricamente, através da observação e
experimentação, de modo a tornar a ação social humana explicável em termos
de regularidade e previsões.
Então, tudo que fosse relativo às ligações do homem com seus semelhantes
passava a outra esfera de abstração, a outra maneira de formular problemas,
ligada à necessidade de descobrir leis de interpretação e previsão dos
acontecimentos.
Desde o século XIX, quando a Sociologia foi criada ou reconhecida como campo
de conhecimento explorável pelo procedimento científico, até a atualidade,
inúmeros estudos se desenvolveram. Como nas demais ciências, estabeleceu-se
uma comunicação permanente entre pesquisadores, permitindo um acúmulo de
princípios e informações, de modo a submeter as teorias a comprovações,
questionamentos e revisão.
Criou-se, assim, um vocabulário próprio com conceitos que designam aspectos
precisos da vida social. Os resultados das pesquisas sociológicas e desse
vocabulário que as acompanha se expandiram de tal forma que, hoje, grande
parte dele faz parte da vida cotidiana, como: contexto social, movimentos sociais,
camadas sociais, conflitos sociais, etc.
Quando começam a estudar Sociologia pela primeira vez, muitos estudantes
ficam confusos com a diversidade de abordagens que encontram. A Sociologia
nunca foi uma disciplina em que há um corpo de idéias que todos aceitam como
válido. Os sociólogos freqüentemente discutem entre si sobre como os resultados
das pesquisas podem ser mais bem interpretados. Por que acontece assim? A
resposta está ligada à própria natureza da área, pois a Sociologia diz respeito às
nossas vidas e ao nosso próprio comportamento, e estudar nós mesmos é o mais
complexo e difícil esforço que podemos empreender.
É por isso que, nos próximos tópicos, tentaremos compreender o pensamento de
três importantes pioneiros desta ciência social: Émile Durkheim, Max Weber e Karl
Marx.
- Com base no que vimos até aqui, que relação há entre
o capitalismo e a existência de uma elite na sociedade?
- Você já reparou no lema da nossa bandeira? O Brasil
pode ser visto como uma sociedade que se orienta pelo
cumprimento de "Ordem e Progresso" nela inscritos?
A seguir, você verá alguns dos conceitos elaborados por Émile Durkheim, Max
Weber e Karl Marx, como cidadãos diante das organizações, das contradições e
dos processos políticos e sociais.
20 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
O francês David Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o
fundador da Sociologia Moderna. Foi um dos primeiros a estudar
profundamente fenômenos sociais. Seu principal trabalho foi dar
à Sociologia uma reputação científica.
Uma das primeiras coisas que Durkheim fez foi criar regras que
tornaram a Sociologia capaz de estudar os acontecimentos
sociais. Para tanto, o primeiro passo foi saber exatamente qual o
objeto de estudo desta nova ciência, isto é, o que a Sociologia
deveria estudar.
A seguir, introduziremos você nas teorias sociológicas clássicas, com o objetivo de
percebermos que as mudanças que ocorrem nas sociedades levaram os
pensadores, em suas épocas, a indagações e elaborações de teorias explicativas
da dinâmica social, sob diferentes olhares e posicionamentos políticos, que nos
ajudam a nos localizar e a nos colocar melhor. Saberá, também, como se deu a
produção sociológica brasileira.
Vejamos, então, alguns dos conceitos elaborados por Émile Durkheim, Max Weber
e Karl Marx.
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
DE ÉMILE DURKHEIM
O sistema sociológico de Durkheim baseia-se em quatro princípios fundamentais:
A Sociologia é uma ciência independente das demais ciências
sociais e da Filosofia;
A realidade social é formada pelos fenômenos coletivos, chamada
por Durkheim de fatos sociais, considerados “coisas”;
A causa de cada fato social deve ser procurada entre os fenômenos
sociais que o antecedem;
Os fatos sociais são exteriores aos indivíduos e formam uma realidade
específica que exerce sobre eles um poder coercitivo.
De acordo com Durkheim, os fatos sociais são os modos de pensar, sentir e agir
de um grupo social. Embora eles sejam exteriores às pessoas, são introjetados
pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo. Para definirmos o que
vem a ser o fato social, baseamo-nos nas três características dadas a seguir:
Generalidade – o fato social é comum a todos os membros de um grupo ou à
sua grande maioria.
Exterioridade – o fato social é externo ao indivíduo, existe independentemente
de sua vontade.
Coercitividade – os indivíduos se sentem pressionados a seguir o comportamento
estabelecido.
Dadas essas características, para Durkheim, os fatos sociais podem ser estudados
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 21
objetivamente, como “coisas”. Assim como o fazem a Biologia ou a Física que
estudam os fatos da natureza, a Sociologia faz o mesmo com os fatos sociais.
Para que você possa entender melhor a concepção de Durkheim:
Para Durkheim, a sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é um
conjunto de normas de ação, de pensamento e de sentimento que não existe
apenas na consciência dos indivíduos; é construído exteriormente, isto é, um
senso coletivo que se constrói em ambiente coletivo, em âmbito exterior ao da
consciência individual. Ou seja: na vida em sociedade, o homem defronta-se
com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas
existem e devem ser aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por
todos.
Um indivíduo isolado não cria leis nem pode modificá-las. Tem de aceitá-las, sob
pena de sofrer castigos por violá-las. Assim, para Durkheim, é a sociedade, é a
coletividade que organiza, condiciona e controla as ações individuais.
Procure na Internet, em jornais, livros ou revistas a origem dos
suicídios atuais para discutirmos à luz do que pensa Durkheim.
Verifique sua teoria, analisando alguns fatos; por exemplo:
problemas financeiros e de saúde aumentam suicídios no Japão.
Disponível em: .
Agora, para que você possa entender melhor as características dos fatos sociais,
observe os seguintes exemplos. O casamento possui generalidade, pois, salvo
algumas exceções, a maioria das pessoas deseja se unir a alguém; possui
exterioridade, pois independente de uma ou outra pessoa não quererem se casar,
ainda assim as pessoas continuarão se casando, portanto não depende apenas
de uma pessoa para existir, mas precisa da maioria; e, por fim, possui
coercitividade, pois existe certa pressão social para que nos vejamos “obrigados”
a nos casar, sob pena de sofrermos os comentários do gênero: “ficou pra titia?”,
“é cheio de manias por que não se casou...”, etc. Portanto, todo fato que reúna
essas três características é denominado social, para Durkheim, e pode ser
estudado pela Sociologia. Perceba, então, como essas regras se aplicam não
apenas ao casamento, mas, da mesma maneira, ao trabalho, à escola, ao modo
de se vestir, comer, enfim, aos costumes, em geral.
Para Durkheim, é a sociedade que influencia o indivíduo. Nesse sentido, a
sociedade só pode ser entendida pela própria sociedade. Toda a teoria
sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência
própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular.
Embora exista uma consciência individual, é possível notar que, dentro de
qualquer grupo ou sociedade, existem formas padronizadas de comportamento
e pensamento. A esta constatação, Durkheim chama de consciência coletiva.
Segundo ele, portanto, consciência coletiva é o “conjunto das crenças e dos
sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma
um sistema determinado com vida própria” (DURKHEIM, [19--], p. 342).
É a consciência coletiva que determina o que é considerado certo ou errado
22 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
numa sociedade, pois aparece como um conjunto de regras fortes e
estabelecidas que atribui valor e delimita os atos individuais.
Durkheim acredita que a sociedade está em constante evolução, o que se
justificaria pelo aumento dos papéis sociais dentro dela.
Acreditando nesta evolução das sociedades, Durkheim estabelece a passagem
do que trata como solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica, como
explicação para a transformação de toda e qualquer sociedade.
Papel Social
Solidariedade Mecânica
Solidariedade Orgânica
é a função ou o comportamento que o grupo social espera de
qualquer pessoa que ocupa determinado status social.
é aquela das sociedades primitivas, pré-capitalistas,
em que os indivíduos se identificam através da consciência coletiva, ligados
pelos costumes, crenças e sentimentos comuns. São as sociedades com
poucos papéis sociais, onde existe pouco espaço para individualidades.
Mecânica, no sentido de que as atitudes e pensamentos são quase que
automáticos e não exigem muita reflexão pessoal.
é aquela das sociedades capitalistas, mais
complexas, nas quais existem muitos papéis sociais. Pela acelerada divisão
do trabalho social, os indivíduos se tornaram interdependentes, o que garante
a união social, a consciência coletiva, e dá espaço à autonomia pessoal.
Orgânica, no sentido de organismo, onde, devido à variedade de atividades,
todos deveriam cooperar entre si.
A partir daí, Durkheim vê a sociedade como um grande organismo vivo, onde
cada um ou cada instituição cumpre seu papel como se fosse um órgão dentro
do grande organismo, que seria a própria sociedade. Cada vez que algum órgão
falha, isto é, deixa de cumprir seu papel, o organismo, no caso a sociedade, fica
doente, o que ele trata como anomia. Para ele, a grande doença social seria o
egoísmo das pessoas e a causa dessa doença seria a falta de normas e controle
sobre a individualidade que, nas sociedades de solidariedade mecânica,
funcionam com maior eficácia. A Sociologia teria exatamente o papel de
encontrar os fatos sociais com anomia (doença) e apontar uma solução.
As obras de Durkheim foram importantíssimas para definir os métodos de trabalho
do sociólogo e estabelecer os principais conceitos desta nova ciência.
Embora positivistas, os estudos de Durkheim são relevantes para a Sociologia
contemporânea, pois, preocupado com as leis gerais capazes de explicar a
evolução das sociedades humanas, ele também pensou nas particularidades da
sociedade em que vivia, nos mecanismos de coesão dos pequenos grupos e na
formação de sentimentos comuns resultantes da convivência social. Diferenciou
instâncias da vida social e seu papel na organização social, como a educação,
a família e a religião, elaborou um conjunto coordenado de conceitos e de
técnicas de pesquisa que, embora norteado por princípios das ciências naturais,
mostravam o discernimento de um objeto de estudo próprio e de meios
adequados para interpretá-lo.
Sua contribuição nos dá referenciais para refletirmos sobre as sociedades, ajudanos
a pensar e interpretar os acontecimentos.
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 23
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
DE MAX WEBER
SABER M
Para que você possa entender melhor os conceitos de
Durkheim, leia as suas obras mais importantes. Dentre
elas, destacamos: A divisão do trabalho social, As regras
do método sociológico e O suicídio. Essas obras clássicas
você poderá encontrar nas bibliotecas de seu município.
Leia também o texto abaixo e reflita:
Durkheim e o Método Sociológico
Durkheim deslocou o problema para um terreno estritamente formal,
único em que ele poderia ser estabelecido em uma ciência em plena
formação. Uma observação bem feita em geral deve muito a uma teoria
constituída, mas ela não é o produto necessário dos conhecimentos já obtidos.
Ao contrário, representa a via inevitável para a consecução destes. Daí a
conclusão lógica: os sociólogos se beneficiarão das teorias na medida em que
a investigação sociológica progredir. Até lá, e mesmo depois, precisam saber
proceder a descrições exatas, a observações bem feitas e, em particular,
devem aprender a extrair, da complexa realidade social, os fatos que
interessam precisamente à Sociologia. Para atingir esses fins, não necessitam
de uma teoria sociológica, propriamente falando. Mas de uma espécie de
teoria sociológica, o que é outra coisa e presumivelmente algo exeqüível e
legítimo. Nesse sentido (e não em um plano substantivo) é que a Sociologia
poderia aproveitar a lição e a experiência das ciências mais maduras:
transferindo para o seu campo o procedimento científico usado nas ciências
empírico-indutivas, de observação ou experimentais. Isso seria fácil, desde que
a ambição inicial se restringisse à formulação de um conjunto de regras
simples e precisas, aplicáveis à investigação sociológica dos fenômenos
sociais.
Do que foi exposto, conclui-se que Durkheim se propôs a tarefa de realizar uma
teoria da investigação sociológica. De fato, ele empreendeu tal tarefa. E foi o
primeiro sociólogo que conseguiu atingir semelhante objetivo, em condições
difíceis e com um êxito que só pode ser contestado quando se toma uma
posição diferente em face das condições, limites e ideais de explicação
científica na Sociologia (FERNANDES, [19--], p. 77-78).
Nascido em Erfurt, na Turíngia, Alemanha, o
sociólogo e cientista político Max Weber (1864-
1920) é considerado um dos mais importantes
pensadores modernos, um dos fundadores
clássicos da Sociologia. Criou uma nova disciplina,
a Sociologia da Religião, através da qual
desenvolveu estudos comparados entre a história
econômica e a história das doutrinas religiosas.
24 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
Foi também um dos primeiros cientistas sociais a chamar a atenção para o
fenômeno da burocracia, não só no Estado Moderno, mas também ao longo da
história. De acordo com ele, a Sociologia deveria estudar o sentido da ação
humana individual, que deve ser buscado pelo método da interpretação e da
compreensão.
As teorias de Weber exerceram grande influência sobre as ciências sociais a partir
da década de 1920.
Ao contrário de Durkheim e de August Comte, Weber interpretava a sociedade
não através dela mesma, mas sim “olhando” para o indivíduo que nela vive, pois
entendia que aquilo que ocorre na sociedade seria a soma das ações das
pessoas.
O contraste entre o Positivismo, de Durkheim, e o Idealismo, de Weber, se expressa,
entre outros elementos, nas maneiras diferentes como cada uma dessas correntes
encara a história.
Para o Positivismo, a história é o processo universal de evolução da humanidade,
cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo. Essa forma de
pensar faz desaparecerem as particularidades históricas, e os indivíduos são
dissolvidos em meio a forças sociais impositivas.
Já para os idealistas, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das
sociedades. Baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das
fontes, permite o entendimento das diferenças sociais, que seriam, para Weber, de
gênese e formação, e não de estágios de evolução, como pensava Durkheim.
Para Weber, portanto, o conhecimento histórico, visto como a busca de
evidências, torna-se um poderoso instrumento para o cientista social.
Ele não achava que uma sucessão de fatos históricos fizesse sentido por si só. Era
preciso um esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas
características peculiares das sociedades contemporâneas; seria essa atitude de
compreensão que permitiria ao cientista atribuir aos fatos um sentido social e
histórico. Através desse raciocínio, Weber desenvolveu o que chamamos de
Sociologia Compreensiva, isto é, uma teoria que entende a sociedade a partir da
compreensão das ações dos indivíduos.
Partindo do individual, ele pretende chegar ao geral, ao social, pois, para ele, não
é a sociedade que influencia o indivíduo, mas as pessoas que, individualmente,
fazem a sociedade existir e acontecer.
Weber estabelece conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e
seus efeitos. Para isso, seria necessário compreender o sentido da ação do
indivíduo, esquematizar, portanto, algumas probabilidades de ações, que Weber
chama de tipos de ação social. Segundo ele, as pessoas podem atuar de acordo
com três tipos básicos de ação social:
Ação Social Racional
Ação Social Afetiva
– que ocorre para obter um objetivo, o indivíduo age
porque acredita em valores. Exemplo: “estudar para passar no vestibular”.
– que ocorre pelo afeto que uma pessoa possui por outra
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 25
ou ainda por algo. Exemplo: “comprar flores para a namorada”.
– que ocorre por costume ou hábito. Exemplo:
“tomar chimarrão”.
Ação Social Tradicional
O motivo que transparece na ação social permite desvendar seu sentido, que é
social na medida em que cada indivíduo age, levando em conta a resposta ou a
reação de outros indivíduos.
A tarefa do cientista é descobrir os possíveis sentidos das ações humanas,
presentes na realidade social que lhe interesse estudar.
O caráter social da ação individual decorre da interdependência dos indivíduos.
Um sempre age em função de sua motivação e da consciência de agir em
relação a outros, além de a ação social gerar efeitos sobre a realidade em que
ocorre, e estes acabam escapando ao controle e à previsão do primeiro que
deu início à ação.
Para a Sociologia, fica o trabalho de entender o sentido produzido pelos diversos
agentes e todas as suas conseqüências, estabelecer as conexões entre motivos e
ações sociais, o que revela as diversas instâncias da ação social: políticas,
econômicas, religiosas e familiares, pois é o indivíduo que, por meio dos valores
sociais e de sua motivação, produz o sentido da ação social.
Outro enfoque importante da teoria sociológica de Weber é a distinção que ele
faz entre ação social e relação social, pois, para que se estabeleça uma relação
social, é preciso que o sentido seja compartilhado, isto é, que haja uma
interação, uma reciprocidade. Já na ação social, isso não ocorre, a ação é
individual.
Portanto, para a Sociologia weberiana, os acontecimentos que integram o
social têm origem nos indivíduos.
Outro aspecto da teoria sociológica de Weber trata do tipo ideal. Para poder
explicar os fatos sociais, ele construiu uma teoria um tanto quanto abstrata,
partindo do estudo sistemático das diversas manifestações particulares até
chegar a um modelo, acentuando aquilo que lhe pareça característico. É a
síntese daquilo que é essencial na diversidade das manifestações da vida social,
permitindo a identificação de exemplares em diferentes tempos e lugares.
O tipo ideal de Max Weber corresponde ao que Florestan Fernandes
definiu como conceitos sociológicos construídos interpretativamente como
instrumentos de ordenação da realidade. O conceito, ou tipo ideal, é
previamente construído e testado, depois aplicado a diferentes situações
em que dado fenômeno possa ter ocorrido. À medida que o fenômeno se
aproxima ou se afasta de sua manifestação típica, o sociólogo pode
identificar e selecionar aspectos que tenham interesse à explicação como,
por exemplo, os fenômenos típicos “capitalismo” e “feudalismo” (COSTA,
2002, p. 75).
26 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
O tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas formações sociais
históricas, mas sim deve servir como um instrumento de análise científica, em que
podemos conceituar fenômenos, e identificar suas manifestações na realidade
observada, além de podermos compará-las.
Weber era protestante e, segundo a lógica de seu pensamento, o capitalismo
teve parte de sua base inicial na ação social dos membros que seguiam a ética
protestante calvinista. Um de seus trabalhos mais conhecidos é A ética protestante
e o espírito do capitalismo, no qual relaciona o papel do protestantismo na
formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Escreveu,
também, Economia e sociedade.
Ele faz um estudo comparativo pelo qual demonstra que as sociedades onde a
ética protestante predominava tinham, por essa razão, uma ética de vida voltada
ao trabalho e à disciplina muito forte, pois acreditavam que trabalho e sucesso
seriam indícios de que, além de glorificar Deus, garantiriam sua salvação, logo o
capitalismo se desenvolveria francamente. Para Weber, ser capitalista é sinônimo
de ser disciplinado no que faz. Seria pela grande dedicação ao trabalho que
resultaria o sucesso e o enriquecimento, herança da ética protestante.
Já nas sociedades orientais, o capitalismo não se desenvolveu tanto, porque as
religiões têm uma imagem de Deus como sendo parte do mundo. Ao contrário da
ética protestante ocidental, a idéia e a prática de não se viver apenas para o
trabalho não predomina, mas de poder aproveitar tudo o que se ganha pelo
trabalho com as coisas desta vida.
Vivendo os problemas de seu país, Weber pôde trazer uma nova visão mais
independente das ciências exatas e naturais. Foi capaz de compreender a
especificidade das ciências humanas, vendo o homem como sujeito às leis de
ação e comportamento próprios. Um dos aspectos importantes do seu trabalho foi
expor as relações entre sociedade e religião e desvendar as particularidades do
capitalismo.
Motivo e Sentido da Ação Social
No raciocínio de Weber, o conceito de “motivo” permite estabelecer uma ponte
entre sentido e compreensão. Do ponto de vista do agente, o motivo é o
fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tarefa é compreender essa ação, a
reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura
como a causa da ação. Numerosas distinções podem ser estabelecidas aqui, e
Weber realmente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quando se
fala de sentido na sua acepção mais importante para a análise, não se está
cogitando da gênese da ação, mas sim daquilo para o que ela aponta para o
objetivo visado nela; para o seu fim, em suma.
Isso sugere que o sentido tem muito a ver com o modo como se encadeia o
processo de ação, tomando-se a ação efetiva dotada de sentido como um meio
para alcançar um fim, justamente aquele subjetivamente visado pelo agente.
Convém salientar que a ação social não é um ato isolado, mas um processo, no
qual se percorre uma seqüência definida de elos significativos (admitindo-se que
não haja interferência alguma de elementos não pertinentes à ação em tela, o
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 27
que jamais ocorre na experiência empírica e só é pensável em termos típicoideais).
Basta pensar em qualquer ação social (por exemplo, despachar uma
carta) para visualizar isso. Os elementos desse processo articulam-se naquilo que
Weber chama de “cadeia motivacional”: cada ato parcial realizado no processo
opera como fundamento do ato seguinte, até completar-se a seqüência (COSTA,
2002, p. 97-98).
Jovem, solteiro e ansioso para ver Alá
Terrorista suicida islâmico se tornou a mais temida figura da sociedade
israelense. Sua habilidade em disfarce é tanta que os 1,2 mil soldados
convocados para guarnecer os pontos de ônibus de Jerusalém receberam
ordens de ficar especialmente atentos quando virem alguém trajando
uniforme do próprio Exército.
Acredita-se que os autores dos dois primeiros atentados a bomba, que
iniciaram o mais recente ciclo de carnificina de civis no dia 25, estavam
disfarçados de soldados. Um até usava brinco, muito em voga entre alguns
judeus.
Segundo um perfil elaborado por israelenses especialistas em segurança, os
terroristas suicidas são na maioria solteiros, com idade entre 18 e 24 anos e de
família pobre. Tendem a ser fanáticos no comportamento e nas crenças. Suas
motivações incluem o desejo de se igualar ao êxito de outros atacantes ou de
vingar ataques sofridos por suas famílias.
Clérigos do grupo Hamas desempenham importante papel em seu
treinamento, repisando a promessa contida no alcorão de que mártires terão
um paraíso especial, no qual cada combatente tombado recebe 72 noivas
virgens. Também dizem aos suicidas que vagas no paraíso serão reservadas às
suas famílias que, na terra, recebem assistência de entidades beneficentes
ligadas ao Hamas e à Jihad Islâmica.
Depois que um terrorista suicida de Gaza voou pelos ares, os parentes
encontraram freqüentes referências ao paraíso em seus cadernos. Ele
escreveu muito sobre o desejo de morrer, de conhecer Deus como mártir e
viver uma vida muito melhor.
Segundo oficiais israelenses, a carga explosiva de alta potência é geralmente
amarrada ao corpo e detonada por um dispositivo de tempo eletrônico. Os
terroristas são levados com freqüência para inspecionar os alvos de seus
ataques. Homens solteiros são escolhidos para reduzir o risco de um suicida
revelar um ataque ao dizer adeus à sua mulher.
Os autores dos atentados estudam muitas vezes em escolas mantidas por
instituições de caridade e dirigidas pelo Hamas. No geral, antes de cada
missão celebra-se sessão final na mesquita, onde o atacante é fortalecido
pelos clérigos para sua missão. No Líbano, alguns também receberam drogas.
A chocante propensão dos jovens islâmicos ao sacrifício foi revelada segundafeira
em Al Fawwar, um campo de refugiados perto de Hebron, terra natal dos
dois atacantes responsáveis pelas bombas em Jerusalém e Ashkelon. Os
israelenses descobriram que, dos 5 mil moradores, 40 haviam se apresentado
como voluntários para ser terroristas suicidas (WALKER, 1994).
28 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
SABER M
Aplicando à análise da notícia o que aprendemos
sobre a Sociologia weberiana, reflita acerca das
seguintes questões:
A qual ação social a notícia faz referências?
Que valores induzem a ação do terrorista islâmico?
Que motivos levam o terrorista islâmico a agir?
Destaque os aspectos econômicos, políticos e
psicológicos desse fenômeno.
CENTRAL DO BRASIL
BRASIL, 1988.
Direção: Walter Salles.
Duração: 113 min.
Elenco: Fernanda Montenegro, Marilia Pêra e Vinicius de
Oliveira.
Sinopse: Este filme, indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, conta a
história do envolvimento de Dora, mulher que escreve cartas para analfabetos
na estação Central do Brasil, com um menino de 9 anos, Josué, que perde a
mãe. O filme mostra a viagem que ambos empreendem com a intenção de
achar o pai do garoto.
Perceba como é possível identificar nessa história a idéia de Weber a respeito
da ação social e o que ele propõe como relação social.
Para Durkheim, enquanto a ênfase da análise recai sobre a
sociedade, para o sociólogo alemão Max Weber ela deve
centrar-se nos atores e em suas ações. Isso significa que, para
Weber, a sociedade não é algo exterior e superior aos
indivíduos como para Durkheim. Para ele, a sociedade pode
ser compreendida de acordo com um conjunto das ações
individuais reciprocamente referidas. Por isso, ele define a ação
social como objeto da Sociologia.
Vamos falar agora de quem também viu a consolidação da
sociedade capitalista e fez uma forte crítica a ela: o alemão,
filósofo e economista Karl Marx (1818-1883).
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
DE KARL MARX
Filósofo, cientista social, economista e revolucionário alemão,
Karl Heinrich Marx (1818 -1883) foi o principal idealizador do
socialismo e do comunismo revolucionário. Sua doutrina propõe
a derrubada da classe dominante, denominada por ele de
burguesia, por meio de uma revolução do proletariado e a
No modo de produção capitalista, o objetivo é
justamente a acumulação de riquezas e, para
Marx, ela viria da força do trabalhador.
Marx deu o nome de mais-valia à máquina
que faria o capitalismo funcionar, isto é, o
excedente que sai da força de cada
trabalhador. Para entender melhor: uma coisa
é o capitalista. Este valor a mais produzido pelo
operário e que fica com o patrão é o que Marx
define como mais-valia.
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 29
criação de uma sociedade sem classes, na qual os meios de produção passem a
ser propriedade de toda a coletividade.
Marx foi um dos responsáveis por promover uma discussão crítica da sociedade
capitalista, bem como da origem dos problemas sociais que este tipo de
organização social originou.
Com o objetivo de entender o capitalismo, Marx produziu obras de Filosofia,
Economia e Sociologia, na intenção de propor uma transformação social.
Para entendermos o pensamento de Marx, partiremos de uma frase dita por ele:
“A história de todas as sociedades tem sido a história da luta de classes.”
Para Marx, existem apenas duas classes sociais: a burguesia, que é aquela que
tomou posse dos meios de produção, enriqueceu e também obteve o controle do
Estado, isto é, o controle político, criou leis para proteger a propriedade privada e
manter-se no poder, além de difundir sua ideologia de classe; e o proletariado,
que, sem os meios de produção e voz política na sociedade, transformou-se em
parte fundamental no enriquecimento da burguesia, pois oferecia mão-de-obra
para as fábricas.
Meios de Produção
Modo de Produção
– São os meios materiais utilizados por qualquer tipo de
trabalho para a produção de bens, como máquinas, ferramentas, instalações,
formas de energia, a terra, matérias-primas, etc.
– É o termo criado por Marx para designar o conjunto
formado pelas forças produtivas e pelas relações de produção de uma
sociedade, em um período histórico determinado. É a maneira como a
sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui.
Segundo Marx, teriam existido os modos de produção comunal primitivo,
escravista, asiático, feudal e capitalista, e ele ainda previu a formação de um
modo de produção que superaria o capitalismo, que seria o modo socialista
de produção.
Façamos um exemplo:
Numa marcenaria, por mês, um trabalhador produz 20 mesas e o seu salário é de
R$ 800,00. O dono vende cada mesa por R$ 200,00, o que dá um total de R$
4.000,00. Destes R$ 4.000,00 ganhos, diminuímos o salário de R$ 800,00, menos a
30 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
Para Marx, as condições das relações de trabalho dentro do sistema capitalista
colocam o trabalhador numa condição de alienado, pois ele produz e é
separado do que produziu, portanto não tem controle sobre seu próprio trabalho.
Etimologicamente, a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que
significa “que pertence a um outro”. Sob determinado aspecto, alienar é tornar
alheio, transferir para outrem o que é seu. Segundo Marx, que analisou esse
conceito básico, a alienação não é puramente teórica, pois se manifesta na vida
real do homem, na maneira pela qual, a partir da divisão do trabalho, o produto
do seu trabalho deixa de lhe pertencer e todo o resto é decorrência disto.
Além da alienação, outro fator que segundo Marx, fortalece as relações
estabelecidas pelo capitalismo é a ideologia.
matéria-prima, impostos e encargos que daria em torno de R$ 1.000,00, o que
resulta na acumulação de R$ 2.200,00 para o dono da marcenaria. Este acúmulo
é a mais-valia ou lucro. Com esta descrição, Marx configura o caráter de
exploração do sistema capitalista. De imediato, o operário não é capaz de
reverter o quadro, porque se encontra alienado.
A ideologia tem influência marcante nos jogos do poder e na manutenção dos
privilégios que dão forma à maneira de pensar e de agir dos indivíduos na
sociedade. A ideologia seria de tal forma traiçoeira que até aqueles em nome de
quem ela é exercida não lhe perceberiam o caráter ilusório. Além disso, impede
que a classe trabalhadora tenha consciência da própria submissão, porque
camufla a luta de classes quando faz a representação ilusória da sociedade,
mostrando-a como una e harmônica.
Para entender o capitalismo e explicar a organização econômica, Marx
desenvolveu uma teoria que procura dar conta de toda forma produtiva criada
pelo homem, em todo tempo e lugar. A teoria marxista é chamada de
Materialismo Histórico. Dentro dessa visão, a matéria é um dado primário e é a
fonte da consciência, isto é, a consciência do homem, mesmo sendo
determinada pela matéria e estando historicamente situada, não é pura
passividade, pois o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da
ação deste sobre o mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária.
O senso comum pretende explicar a história pela ação dos grandes homens, das
grandes idéias, ou mesmo por Deus. Marx inverte esse processo; no lugar das
idéias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a luta de classes. Explica que,
Ideologia - É a expressão criada no começo do século XIX pelo francês Destutt
de Tracy com o significado de ciência que tem por objeto o estudo das idéias.
Mais tarde, Karl Marx e Friedrich Engels deram a ela o sentido de consciência
social de uma classe dominante, ou conjunto de idéias falsas e enganadoras
destinadas a mascarar a realidade social aos olhos das classes dominadas,
encobrindo as relações de dominação e exploração a que estão submetidas
essas classes. Nessa acepção, ideologia teria o mesmo significado de "falsa
consciência". Atualmente, o termo é empregado com o sentido de conjunto
de idéias dominantes em uma sociedade, ou como "visão de mundo" de uma
classe social, de uma sociedade ou de uma época (OLIVEIRA, [19--], p. 249).
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 31
pela estrutura material da sociedade, a idéia é algo secundário, não no sentido
de menos importante, mas no de algo derivado das condições materiais.
Para estudar a sociedade, devemos partir da forma como os homens de
determinado agrupamento social produzem os bens materiais necessários à sua
vida e não do que dizem, imaginam ou pensam.
Marx parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade reflete a forma
como os homens organizam a produção dos bens e esta, por sua vez, engloba as
forças produtivas, que são as condições materiais de toda a produção (objetos,
instrumentos, matéria-prima) e as relações de produção, que têm o homem como
principal elemento responsável por fazer a ligação entre a natureza, a técnica e
os instrumentos. Portanto, as relações de produção são as formas pelas quais os
homens se organizam para executar a atividade produtiva.
Por essa lógica, podemos dizer que a classe dominante, a burguesia, tem maiores
oportunidades de fazer sua história como deseja, pois tem o poder econômico e
político nas mãos, ao contrário da classe proletária que, por causa da estrutura
social, está desprovida de meios para tal transformação.
O sucesso das teorias marxistas, quer no campo da ciência política, econômica e
social, quer no campo da organização política, se deve ao universalismo de seus
princípios e ao caráter totalizador que imprimiu às suas idéias.
Além disso, há a objetividade científica que, para Marx, só se coloca enquanto
consciência crítica. A ciência, assim como a ação política, só pode ser
verdadeira, e não ideológica, se refletir uma situação de classes e,
conseqüentemente, uma visão crítica da realidade.
A idéia de uma sociedade “doente” ou “normal”, preocupação dos cientistas
sociais positivistas, desaparece em Marx. Para ele, a sociedade é constituída de
relações de conflito e é de sua dinâmica que surge a mudança social. Fenômenos
como luta, conflito, revolução e exploração são constituintes dos diversos
momentos históricos e não disfunções sociais.
Entre suas principais obras, estão: Miséria da Filosofia, O dezoito brumário de Luís
Bonaparte, e O capital; com Engels, escreveu: A sagrada família, A ideologia
alemã, e o Manifesto comunista.
A Sociologia, como vimos até aqui, abrange uma variedade de concepções
teóricas. Algumas vezes, o desacordo entre as posições teóricas é bastante radical,
mas essa diversidade é muito mais um sinal da força e da vitalidade do assunto do
que de sua fraqueza.
SABER M
Assista ao filme Tempos Modernos e identifique como
o diretor trabalhou a questão da alienação.
TEMPOS MODERNOS
EUA, 1936.
Direção: Charles Chaplin.
Duração: 85 min.
Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard,
32 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
Um trabalhador de uma fábrica (Chaplin) tem um colapso nervoso por
trabalhar de forma quase escrava. É levado para um hospital e, quando
retorna para a “vida normal”, para o barulho da cidade, encontra a fábrica já
fechada. Vai em busca de outro destino, mas acaba se envolvendo numa
confusão: ao ver uma jovem (Paulette) roubar um pão para comer, decide se
entregar em seu lugar. Não dá certo, pois uma grã-fina tinha visto o que houve
e entrega tudo. A prisão, então, parece ser o melhor local para se viver:
tranqüilo, seguro e entre amigos. Mesmo assim, os dois acabam escapando e
vão tentar a vida de outra maneira. A amizade que surge entre os dois é bela,
porém não os alimenta. Consegue um em outra fábrica, mas logo os operários
entram em greve e ele se mete novamente em perigo. No meio da confusão,
encontra uma bandeira vermelha, que julga ter caído de um caminhão e
chama pelo dono, enquanto acena com ela. Um grupo de militantes surge
atrás dele, e “junta-se” ao vagabundo. A polícia chega e o toma como líder.
Vai preso ao jogar, sem querer, uma pedra na cabeça de um policial. A moça
consegue trabalho como dançarina num Music Hall e emprega seu amigo
como garçom. Também não dá certo, e os dois seguem, numa estrada, rumo
a mais aventuras.
Capitalismo e Revolução
A história de toda sociedade humana é a história da luta de classes: entre
homem livre e o escravo, entre o patrício e plebeu, entre o barão e o servo.
Numa palavra, opressores e oprimidos se encontram sempre em conflito,
disfarçada ou abertamente, e que termina sempre por uma transformação
revolucionária de toda a sociedade, ou então pela ruína das classes em luta.
[...]
A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou forças
produtivas mais numerosas e mais colossais que todas as gerações passadas
em conjunto. [...] Que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças
produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social? [...]
A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente
os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e,
com isso, todas as relações sociais.
A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía, pelo
contrário, a primeira condição de todas as classes dominantes do passado.
Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o
sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança
distinguem a época burguesa de todas as precedentes.
Devido ao rápido desenvolvimento dos instrumentos de produção e ao
constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a
torrente de civilização mesmo as nações mais bárbaras.
Sinopse: Ambientado no período da Depressão americana da década de
1930, este filme aborda a relação da sociedade industrial com os deserdados.
Henry Bergman, Tiny Sandford e Chester Conklin, entre outros.
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 33
Ela obriga todas as nações do mundo a adotarem o modo burguês de
produção, constrange-as a abraçar o que ela chama de civilização, isto é, a
se tornarem burguesas. [...]
Mas o sistema burguês tornou-se demasiadamente estreito para conter as
riquezas criadas em seu seio. [...] As armas que a burguesia utilizou para abater
o feudalismo voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém,
não forjou somente as armas – os operários modernos, os proletários (MARX e
ENGELS, 1997, p. 9-15).
Depois de analisarmos as teorias de Durkheim, Weber e
Marx a respeito da sociedade, como elas podem nos
ajudar a entender a sociedade contemporânea?
No Brasil e no mundo, a pobreza pode ser pensada como
uma conseqüência do sistema capitalista? Por quê?
PRODUÇÃO SOCIOLÓGICA BRASILEIRA
Já falamos das teorias clássicas, que estavam ocorrendo por toda a Europa, no
início do século XX. Mas e aqui no Brasil, será que havia algum interesse em
explicar e entender a nossa sociedade? É exatamente sobre isto que
conversaremos agora: como se deu a produção sociológica em nosso país.
No Brasil, o processo de formação, organização e sistematização do
pensamento sociológico obedeceu também às condições de
desenvolvimento do capitalismo e à dinâmica própria de inserção do país na
ordem capitalista mundial, refletindo, assim, a situação colonial, a herança da
cultura jesuítica e o lento processo de formação do Estado Nacional.
O capitalismo é a dinâmica própria de inserção do país na ordem capitalista .A
Sociologia brasileira nasce a partir da década de 1930, quando começam a
aparecer reflexões sobre a realidade social com um caráter mais investigativo e
explicativo, pois é a partir daí que as produções literárias começam a demonstrar
interesse na compreensão da sociedade brasileira, quanto à sua formação e
estrutura, o que não significa que, antes disso, ninguém tivesse pensado sobre a
sociedade brasileira, mas, até então, o que existia eram ensaios sociológicos sobre
o Brasil, elaborados por historiadores, políticos, economistas, etc.
A necessidade de explicar a sociedade brasileira foi impulsionada por diversos
movimentos que estimularam uma postura mais crítica sobre o que acontecia em
nosso país, provocando transformações de ordem social, econômica, política e
cultural no país e despertando o interesse de pensadores.
Dentre eles, podemos destacar o Modernismo, um movimento que lutava para
que as regras vigentes sobre a arte e a literatura não seguissem os moldes
34 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
internacionais, a fim de não sufocarem a criação nacional e culminou com a
Semana de Arte Moderna, em São Paulo (1922), um marco da independência da
arte brasileira. Dentre seus idealizadores, destacamos Mario de Andrade, Manuel
Bandeira, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, etc.
Outro movimento que influenciou o surgimento do pensamento sociológico no
Brasil foi a formação dos partidos que começou a ocorrer nesse período,
sobretudo do Partido Comunista, em 1922, que tinha o ideário de criar uma cultura
socialista no Brasil. Com base em teóricos como Karl Marx, inauguraram uma
maneira de fazer política voltada aos interesses da classe trabalhadora.
Relevante também, nesse contexto, foi o Movimento Armado de 1935, também
conhecido como o “Levante Comunista” e que, embora não tenha sido vitorioso,
teve como protagonistas o Partido Comunista e os Tenentes de esquerda do
Exército brasileiro, que lutavam pelo fim do imperialismo e pela existência de uma
ditadura democrática.
Otávio Ianni (1926- 2003), sociólogo brasileiro, divide os acontecimentos no Brasil e
organiza a implantação da Sociologia neste país em três fases ou gerações de
autores. São elas:
1ª Geração – É composta por autores que se preocupavam em fazer estudos
históricos sobre a nossa realidade, com um caráter mais voltado para a Literatura
do que para a Sociologia. Trazemos como referência desse período o autor
Euclides da Cunha. Na sua obra Os Sertões, faz relatos sobre como era a terra, a
paisagem, o sertanejo, além de descrever como ocorreu a guerra de Canudos. É
possível perceber seu enfoque sociológico quando faz, nesta obra, revelações
quanto à organização da República que estava sendo consolidada. Na verdade,
Canudos era um retrato da sociedade republicana que não conseguia suprir as
necessidades básicas de seu povo. Nesse aspecto, a observação de Euclides da
Cunha transforma sua obra em um dos referenciais de início do pensamento
sociológico no Brasil.
2ª Geração – Nesta fase, os autores possuem uma preocupação em fazer
pesquisas de campo, característica das pesquisas sociológicas, e que começa a
ser levada em conta. Como referência desta geração, podemos citar Gilberto
Freyre que, na obra Casa Grande & Senzala, demonstra as características da
colonização portuguesa, a formação da sociedade agrária, o uso do trabalho
escravo e, ainda, como a mistura das raças ajudou a compor a sociedade
brasileira. Inaugura uma teoria que combatia a visão elitista existente na época.
No entanto, Freyre tinha uma postura aristocrática e conservadora relacionada à
sociedade brasileira, pois suas descrições do tempo e da escravidão adquirem
uma conotação harmoniosa e sem conflitos nessa estrutura.
Outro autor de referência desta fase, mas com um caráter mais crítico sobre a
formação da nossa sociedade, é Caio Prado Júnior, que recorria à visão marxista,
partindo do ponto de vista material e econômico para o entendimento da
formação do Brasil. Em sua obra Formação do Brasil Contemporâneo, apresenta a
tese de que a origem do atraso da nação brasileira estaria vinculada ao tipo de
colonização a que o Brasil foi submetido por Portugal, isto é, uma colonização
periférica e exploratória.
3ª Geração – Neste período, foi fundada a Escola Livre de Sociologia e Política
SABER M
Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra 35
(1933) iniciando, assim, o estudo sistemático da Sociologia, opondo-se ao caráter
genérico de “humanidades” que adquirira na formação de engenheiros, médicos
e advogados. Esta terceira geração é formada por sociólogos que vieram de
diferentes instituições universitárias, inaugurando estilos um tanto quanto
independentes, pois trabalhavam com os autores clássicos da Sociologia e a
produção crítica destes. Vários autores fazem parte deste período. Podemos citar
como referência Florestan Fernandes, importante nome da Sociologia crítica no
Brasil. Em sua obra Fundamentos da Explicação Sociológica e em todas as outras,
tinha como metodologia “dialogar”, de maneira crítica, com a produção
sociológica clássica, fazendo um contínuo questionamento sobre a realidade
social e as teorias que tentavam explicá-la, sempre buscando ir além das reflexões
já existentes.
Durante o regime militar no Brasil, alguns dos intelectuais afastados de suas
cátedras be de suas pesquisas continuaram trabalhando no exterior; outros
formaram núcleos de pesquisa independentes.
Nos anos 80, com a abertura política, muitos cientistas sociais decidiram deixar a
cátedra para ingressar na política propriamente dita. O PT (Partido dos
Trabalhadores) foi o que mais se beneficiou com essa nova atuação. Florestan
Fernandes, Antonio Candido e Mello e Souza e Francisco Weffort foram alguns dos
nomes que entraram na luta política partidária. O PDT (Partido Democrático
Trabalhista) teve a filiação do antropólogo Darcy Ribeiro, e Fernando Henrique
Cardoso esteve presente na fundação do PSDB (Partido Social Democrata
Brasileiro).
Assistimos, assim,ao engajamento dos cientistas sociais na política formal e
institucional. Percebemos, também, uma progressiva diversificação das ciências
sociais, em especial da Sociologia. Multiplicaram-se os campos de estudo,
fazendo surgir análises sobre a condição feminina, o menor, as favelas, as artes, a
violência urbana e rural, entre outras.
A Sociologia se torna, cada vez mais, interdisciplinar e plural, com a multiplicação
infindável de seus objetos de estudo, no que é auxiliada pela própria realidade,
cada vez mais diversificada.
Sinopse: O filme conta a história de Olga Benário Prestes. Nascida em Munique,
na Alemanha, em 1908, filha de pais judeus, Olga tornou-se uma ativista do
comunismo. Após libertar seu namorado Otto Braun da cadeia, eles são
forçados a fugir para a União Soviética, onde recebem treinamento de
guerrilha. Olga logo se destaca no Partido Comunista, onde conhece Luís
Carlos Prestes, que viria a se tornar um dos principais líderes comunistas do
Brasil. Em 1934, quando Prestes volta ao Brasil, designado pela Internacional
Comunista para liderar uma revolução armada, Olga é designada para
OLGA
BRASIL, 2004.
Direção: Jaime Monjardim
Elenco: Camila Morgado, Renata Jesion, Caco Ciocler,
Osmar Prado, Floriano Peixoto e Fernanda Montenegro,
entre outros.
36 Sociologia - Maria Helena Viana Bezerra
escoltá-lo. Passam a viver na clandestinidade enquanto planejam a derrubada
do governo de Getúlio Vargas. Durante este período, a relação amorosa entre
Prestes e Olga amadurece e ela fica grávida em 1935.
Quando o movimento revolucionário é derrotado pelas forças de Vargas, Olga
e Prestes são presos pelo duro chefe de polícia Filinto Müller. Diante de rumores
de que seria deportada, Olga divulga sua gravidez e solicita asilo político, por
ser casada e estar grávida de Prestes. O governo Vargas, que neste momento
simpatizava com a ditadura de Adolf Hitler, deporta Olga, mesmo grávida de
sete meses. Na prisão alemã, dá à luz uma filha que batiza de Anita Leocádia,
em homenagem a D. Leocádia, mãe de Prestes. Após o período de
amamentação, a menina foi retirada de Olga e entregue à D. Leocádia. Após
anos de prisão em campos de concentração, durante os quais a opinião
pública internacional fez inúmeras tentativas de libertá-la, Olga é morta na
câmara de gás. Somente anos depois, Prestes e sua filha leriam a última carta
de Olga, onde faz uma comovente despedida.
Como você vê o engajamento dos cientistas sociais na
política partidária?
Você costuma participar da discussão sobre os problemas
sociais em seu cotidiano (família, escola, bairro, cidade)?
De que forma?
Na próxima unidade, você aprenderá a se perceber como um ser que vive em
sociedade, convivendo com outras pessoas diferentes de você e desenvolvendo
atividades em equipe. Perceberá também como se organiza o mundo do
trabalho e como se dão as injustiças sociais.